Só, só, só mais um

Cá em casa somos 5, 6 quando a avó Lena está, e 2 cães.  Os meus filhos pedem muitas vezes mais um irmão, a avó Lena mais descanso e aos cães chega-lhes festas e ração. Mas os meus filhos não pedem só mais um irmão, pedem também mais um jogo de playstation, mais uma bola, mais uma raquete, mais uns ténis, mais um gelado, mais um ice-tea, pedem, pedem, pedem. Mas ultimamente têm pedido mesmo muitas vezes para terem mais um irmão, menino ou menina, vão variando as preferências. Pedem um bebe cá para casa, que fique e se junte a nós e assim passaríamos a ser 6, ou 7 quando a avó Lena está, e 2 cães. Sempre que um deles pergunta a mim ou ao pai se não gostaríamos de ter mais um filho nenhum de nós consegue responder que não. Olhamos um para o outro, com mais medos que vontades, e eu vejo nos olhos do pai pequenos resumos da grande aventura que é sermos uma família numerosa numa casa com um quintal grande, 2 cães e tanta relva para cortar. 

Eu confesso que fico rendida à ternura deles quando pedem mais um irmão “oh mãe eu gostava de ter mais um mano” “mãe, eu preferia uma mana” “eu gostava de lhe chamar Joaquim ou então Maria Leonor” “e se for Maria Inês?”. Fico enternecida com o facto de eles sentirem que somos todos capazes de ser mais um, sem egoísmos nem egocentrismos. Fazem-me sentir um Cristiano Ronaldo em final de tempo dos 90 minutos, com a equipa a vencer por três golos, e a pressão da claque a gritar “só, só, só mais um”. E quem é que não gosta de festejar mais um golo?

Dou comigo a pensar que em todo o lado podemos ser mais um, menos no carro, isso teríamos mesmo de trocar. Na nossa cama também dificilmente cabe mais um, mas o mais velho já a visita tão poucas vezes que conseguiríamos espaço para mais um. No coração cabem todos os que vierem e em casa com toda a certeza caberia pelo menos mais um.

Mas eu tenho medo. Medo da idade, medo de não estar à altura, medo de alguma coisa não correr bem, medo de não dormir, medo de não acordar, medo de não conseguir. Medo dos narizes com ranho que têm de ser aspirados, medo do cansaço das avós, medo de ter de deixar de trabalhar, medo dos 3 meses das  férias de verão, medo dos dias de greve com as escolas fechadas, medo de ter medo. Por outro lado, há (quase sempre) uma enorme vontade de ter mais um bebe, de amamentar, de segurar, de carregar, de preparar o quarto e o enxoval. Saudades da pele macia em contacto com a minha, dos pés gordos e apetitosos, do adormecer ao colo, do cheiro a bebé, do cheiro dos cremes de bebé. Saudades de ser mãe de um bebé.

No fim-de-semana passado vestiram-se todos sozinhos (até o pai) para irmos a um  baptizado. Em meia hora estávamos os cinco despachados e no carro prontos para sair de casa. Com um bebé isso seria impossível. Nesse mesmo baptizado ficámos sentados em frente a uma bebé e os meus filhos renderam-se ao seu encanto e eu ao encanto deles por ela. Do nada começaram os três a discutir por um copo de água como se fosse a última gota de água do planeta. E se eles gritam quando discutem! É nestas alturas que eu me afasto para não ter de intervir, e enquanto recuo penso que seria uma grande loucura sermos todos mais um. Quando por último sou obrigada a separá-los entre murros e pontapés, com gritos agudos por cima dos gritos deles, percebo que posso já não ter voz para mais um. Ou uma, e se fosse uma Maria?

sessao-patricia-pedro-110

4 thoughts on “Só, só, só mais um

  1. Podes ter mais um. Não digas a ninguém mas o quarto, é aquele que mais se aproveita. Porque os medos já são menos, as alegrias menos explosivas e sobretudo vai ter amor de todos os outros 5. Beijinhos de nós os 6. Escova

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