4. Perder o marido, o pai dos filhos e o melhor amigo?

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E com esta já são 4 partilhas!

A Maria (nome fictício, Maria pela sua devoção a Nossa Senhora) perdeu o marido, o pai dos filhos e o melhor amigo no mesmo dia à mesma hora. Francisco partiu sem avisar (nome fictício, Francisco pela admiração de ambos ao Papa Francisco) e tem dias que ainda é difícil acreditar. A partida é muito recente e Maria ainda não se habituou à ideia de que ele não está. Ou melhor, está, embora ausente.

Conheço a Maria há muitos anos. É minha amiga, assim como também era o Francisco. A Maria é uma comunicadora nata. É daquelas pessoas que para a ouvirmos temos de a ver, porque a Maria fala com as mãos e com os olhos mais do que com palavras, daí que não tenha sido fácil por a sua partilha num texto e desta vez eu, com a sua devida autorização, troquei umas palavras e umas vírgulas de sítio.

“Não tenho jeito para escrever, mas gosto muito de falar! Tenho uma grave dificuldade nos pontos e vírgulas! Mas porque não aceitar o desafio de partilhar a minha dor? Acharão que é cedo? Mas ninguém vai saber que sou eu. Que se lixe, não há mal em falar de amor.

Apetece-me partilhar que fui muito amada, que o amor é infinito, que partiu o amor da minha vida ou que simplesmente não está cá. A confusão em mim é tão grande que chego a crer que apenas emigrou.

Estou em modo piloto, merda! Estou como consigo estar. Morrer não faz parte do meu vocabulário, ninguém morre quando há amor. Vinte e cinco anos de namoro e casamento. Hoje tenho 45. Mais de metade da minha vida foi passada com o pai dos meus filhos, com o meu marido, com o meu melhor amigo. E meu será até que a morte nos separe. E mesmo depois da morte. Meu será.

Quando alguém brinda, copos cheios de vinho por beber e outros tantos já bebidos, brinda normalmente à amizade, a mais saúde! O meu marido, pai dos meus filhos, irmão do meu cunhado e filho (sim filho) de uma grande mulher brindava ao amor! Partiu num dia de brinde ao amor, à vida e à fé. Partiu num dia de festa que ele tanto gostava! O meu amor partiu no dia do seu aniversário.

04:30. Tanta vez nos deitámos a essa hora. 04:30. Tantas vezes nos levantámos a essa hora porque os miúdos acordavam a vomitar ou tinham febre. 04:30 acordou-me o meu o amor porque não se estava a sentir bem. Levantei-me e percebi que tinha de leva-lo ao hospital. Ligo para o 112. Eu tinha de ficar em casa, tenho os meus filhos a dormir e temos de começar o dia levantar tomar o pequeno-almoço e ir para a escola. O pai foi ao hospital mas está tudo bem. Os meus pais, o meu irmão,cunhado e sogra em nossa casa e eu vou levar os meninos à escola e rezar vou ao trabalho desmarcar o dia para ir para Lisboa. Os médicos disseram que não valia a pena ir para o hospital, que só perto da hora do almoço é que estava despachado e eu cumpri ordens! Aparece no meu trabalho o meu irmão e uma amiga para me levarem para Lisboa. Fui todo o caminho a dizer que estava tudo bem. Chovia torrencialmente, mais do que o normal para maio, entrei no hospital e disseram-me que os médicos estavam à minha espera. Entrei numa sala. No meu trabalho ensinaram-me que temos de controlar as nossas emoções. Quando os médicos começaram a falar percebi que não estava a conseguir controlar as emoções. “É grave?”, perguntei eu. Deram-me a aliança do amor da minha vida, a que ele nunca perdeu, a aliança do nosso casamento. E eu que já perdi a minha mas que ele rapidamente se apressou a comprar-me outra. A aliança dele estava agora na minha mão eu não deixei o médico dizer a palavra que vocês sabem que não faz parte do meu vocabulário (morreu, faleceu). Só pensava nos meus filhos, em mais ninguém. Vim para casa com a aliança e com um comprimido. Não me lembro de muito mais a partir daqui, só do sorriso do amor da minha vida e mesmo a dormir estava a sorrir, lembro me dos meus filhos e dos meus amigos que sofriam também tinham perdido o amigo mas não me deixaram nunca sempre a meu lado. Os meus filhos perderam o pai e eu tinha de conseguir ficar minimamente saudável de cabeça. Perdi o amor da minha vida e fiquei com os outros dois amores da minha vida. Como vou eu chamar o meu pai, sabendo que os meus filhos já não podem chamar pelo pai? Tenho de me manter viva e tentar sorrir para eles, além do amor o meu marido deixou-me um abraço que vou sempre senti-lo. Um abraço sempre tão bom e sempre tão apertadinho,  cheio de tranquilidade. Aprendi a sorrir para os meus filhos por nós os dois.”

 

8 thoughts on “4. Perder o marido, o pai dos filhos e o melhor amigo?

  1. Quanta emoção! Sei avaliar o que sente a Maria….. sem mais palavras…….., ..um abraço solidário do tamanho do mundo para a Maria e para os seus amores! Um grande beijinho para a Patrícia💖💖💖💖

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    1. Não conheci o Francisco mas a Maria está no meu coração desde o dia em que a conheci! Adoro-a! Como ela diz… a Vida ainda nos dá coisas boas… beijinhos para ela e para ti querida Patricia

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