

Há uns tempos a trocar mensagens com uma amiga, na altura grávida de terceira viagem, e hoje mãe de uma bebé que se juntou aos 2 rapazes lá de casa, ela perguntava-me como era ter (ou melhor, SER) uma família numerosa, pergunta à qual ela própria respondeu no imediato “é assustador mas tudo se faz”.
E eu fiquei, desde esse dia, com este post aqui em rascunho e a pensar se será assim tão diferente o dia-a-dia de quem tem 1, 2, 3 ou mais filhos. E sim, há diferenças. Quem diz que onde comem 2, comem 3 ou 4, com certeza não sabe a diferença entre fazer 1, 2 ou 5 camas; apanhar brinquedos do chão de 1, 2 ou 3 quartos; fazer trabalhos de casa com 1, 2 ou 3 filhos; ir buscar à noite 1, 2 ou 3 adolescentes; acompanhar jogos e outras actividades de 1, 2 ou 3 miúdos; dobrar meias de 1, 2 ou 4 rapazes (obrigada, Maria José!); fazer lanches de manhã sem trocar os aromas dos iogurtes para 1, 2 ou 3 mochilas.
Cada filho vem com as suas preferências, feitio e jeito de ser. Há que ter sempre presente que embora sejamos UM grupo de 5 pessoas, somos também CINCO pessoas que, por acaso, pertencemos a um mesmo conjunto que é a nossa família. Que eles, para além de serem UM conjunto de três filhos, são também TRÊS filhos, TRÊS pessoas diferentes que por acaso são irmãos e são meus filhos. Que só porque o Zé não gosta de queijo, eu não devo mandar sempre sandes de fiambre ao João e ao Kiki, que só porque o João e o Kiki jogam e gostam de rugby, o Zé Maria pode preferir o futebol ou o ténis e que eu vou ter de lhe dar o mesmo espaço e tempo para escolher e decidir, mesmo que isso se transforme em muito mais trabalho para mim.
Há que definir prioridades e organizar muito bem tudo o que é essencial para garantir o bom funcionamento do que é mais importante – eu sei o que estão a pensar neste momento “e quais são exactamente essas prioridades? quando o tempo (e/ou o dinheiro) é pouco o que é que é essencial? o que é afinal o mais importante?” – não sei responder porque as prioridades mudam a cada instante. Numa família de 5 o ritmo por vezes atinge velocidades alucinantes e muitas vezes o mais importante é só mesmo: parar, baixar o tom de voz, lembrar-me o quanto gostamos uns dos outros e sorrir. Tento sempre nunca abdicar de manter os mimos à frente das tarefas, desafio diariamente os limites da minha paciência, especialmente no início e final de dia, e procuro truques que permitam contrariar as leis do tempo que não pára.
Numa casa de uma família numerosa, nesta onde moram 5 pessoas, actualmente 6 (como eu já contei aqui), e muitas vezes mais de 6 com os amigos que tanto gostamos de receber, há tachos grandes e tabuleiros que enchem o forno, há sempre migalhas no chão da sala e pingos de água no chão da casa-de-banho, há contas grandes de gás, luz, água e supermercado, há barulho, há marcas de mãos sujas nas paredes e no comando da televisão, há muito barulho e estranha-se quando o silêncio prevalece.
Numa casa de uma família numerosa, nesta onde moram 5 pessoas, actualmente 6, há também coisas que são iguais a todas as outras famílias, independentemente de serem famílias de 2, 3 ou 5 pessoas. Há mantas no sofá onde nos enroscamos e tantas vezes adormecemos, há preguiça aos domingos e tostas mistas ao jantar, há beijinhos que tentam curar feridas e abraços prolongados de quem quer afogar a saudade. Numa casa de uma família numerosa, nesta onde moram 5 pessoas, actualmente 6, resmunga-se quando a sopa é igual 3 dias seguidos e discute-se quando alguém deixa o pacote de bolachas vazio na gaveta. Há, nesta família de 5, actualmente 6, sobretudo muito AMOR (que nunca falte) e RESPEITO (que nem sempre se consegue). Há muito boa vontade (na maior parte dos dias) – e há afinal uma prioridade que é constante e que posso partilhar convosco: não desistir nunca de nenhum e nisso incluir-me também a mim.
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