
Ela chega, quase sempre, sem avisar e nós paramos tudo para a receber, sem sequer lhe pedirmos para esperar.
(Des)marcamos viagens, cancelamos reuniões, adiamos planos e faltamos a compromissos. Fazemos de tudo para marcar presença porque para a morte, ao contrário da vida, não há desculpas para não estar. Ela chega e nós largamos tudo para ir ao encontro dos que por ela foram surpreendidos.
Abraçamos, confortamos e prometemos – mas prometemos mesmo – que não vamos estar tanto tempo sem nos vermos. Que vamos em breve tomar aquele café, retomar aquela conversa, marcar o tal almoço, um fim-de-semana só de amigas e porque não uma viagem com tudo a que temos direito.
Lembro-me de pensar nisto no funeral do meu irmão, em como a morte nos rouba tudo e ao mesmo tempo dá-nos o tempo para largar tudo por ela. E lembro-me de sorrir ao reencontrar amigos com quem habitualmente não estou. “A sério que estás aqui? Vieste de tão longe só para me abraçar? E o teu bebé com quem está? E as tuas aulas? E os teus alunos?”
Tudo o que na vida nos impede de celebrar quando e com quem queremos lembra-nos a morte que para ela há sempre tempo.
Chega a morte e muda-nos a vida. Quando deveríamos ser nós a mudar a vida antes que chegue a morte. Porque nada nos alegra mais que a vida e nada nos entristece mais que a morte.
A amiga pode esperar, o amor pode ficar em pausa, a viagem pode-se adiar… mas só até a morte chegar.