No seguimento do post de facebook de ontem, a primeira mensagem que me chegou foi sobre a Noite de Natal, a Noite Santa de Natal, aquela em que juntamos com alegria a nossa família à volta da mesa. Mas… e quando falta um elemento da família? E quando faltam dois?
O meu irmão morreu no dia 13 de Setembro de 2005 e passados 3 meses eu não estava nem aí para o Natal. Não conseguia suportar a ideia de me sentar à mesa sem a presença do meu irmão. O meu filho João Maria, na altura com 8 meses, também não iria sentir a falta de passar o Natal com outros familiares que não o pai e a mãe. Mandei mensagens aos amigos e familiares mais próximos a pedir que não trocassem presentes comigo, que não contassem comigo para os habituais jantares de Natal mas que me incluíssem nas suas orações. Convenci o Pedro e os meus pais, levámos o João Maria e as tralhas e marcámos hotel em Salamanca por 2 noites. Não nos esquecemos do Tio Pedro nem por um momento, mas estivemos juntos os 5 longe do que era a nossa situação actual, quase que com uma falsa esperança que no regresso tudo pudesse estar como deveria ser, juntos na mesma dor e cada um a sofrer à sua maneira. Uma mãe, um pai, uma irmã, um sobrinho e um cunhado. Na noite de 24 de Dezembro jantámos tapas num restaurante mesmo giro no centro de Salamanca, passeámos muito, não decorámos a árvore de Natal e não trocámos presentes.
Esse foi o único Natal em que saímos uns dias. Há 11 anos para cá que temos celebrado o Natal em família juntamente com cunhados, pais e sogros, filhos e sobrinhas. Com três crianças à mesa é impossível não ter alegria e embora a saudade esteja sempre presente, aprendemos de alguma forma a viver ou a decidir o que fazer com ela, não só na Noite Santa de Natal, mas igualmente em todas as outras do ano.
A M quis partilhar um bocadinho sobre a sua Noite de Natal sem a presença da mãe e do pai, mesmo passados tantos anos de os ter perdido, a saudade e as recordações continuam muito presentes.
“Há 23 anos apareceram as saudades, doíam demasiado e há 16 duplicaram. Como é possível doerem tanto! Doem mesmo demasiado, magoam muito, entristecem. No Natal voltavam com mais intensidade a lembrar o que perdemos. Mas este ano foi diferente… As saudades já não doem demasiado são saudades boas… Na nossa casa sempre que havia festas a minha mãe fazia uma receita de bacalhau, não sei como se chama, penso que nunca soube. Para nós era o bacalhau das festas e só a minha mãe fazia. Se é melhor que outras receitas? Penso que não, mas era o bacalhau que aparecia nas nossas festas. Que saudade boa! Já não é das que doem demasiado… Este ano o Natal seria passado com a família dos nossos maridos e por isso como é habitual nestes anos, fizemos a nossa Festa de Natal no fim-de-semana anterior em casa da minha irmã S. A mesa estava posta para os 17, nós, maridos e filhos, igual às dos outros anos. Mas a saudade apareceu, a boa, não a que dói demasiado e mostrou que éramos 19. Os pais estavam lá! Que saudade boa! E sentámo-nos, rimos e brincámos… Quando a S foi buscar o prato principal, feito pela tia do meu cunhado G, apareceu quase por magia o nosso bacalhau, o bacalhau da nossa mãe, o bacalhau que noutros tempos aparecia sempre na mesa das festas. Com o tabuleiro do bacalhau chegou também à mesa, onde nos sentávamos, toda a saudade, toda a saudade da boa”.
Obrigada querida M, que boa a tua partilha. Será possível sentir tanto amor e saudade num tabuleiro de bacalhau? Eu senti nesta tua partilha. Mas tu, tão bem como eu , sabes que apenas sentimos saudade das coisas boas, sejam elas um bacalhau ou as memórias boas de quem já nos deixou.
Deixo-vos com algumas fotos do nosso Natal de 2005 em Salamanca, o primeiro Natal do meu filho João Maria e o primeiro sem o meu irmão. Naquela altura não lhe chamei Natal, chamei-lhe uns dias em Salamanca. Hoje ao rever estas fotos senti o Natal destes dias. Estávamos juntos, na dor e no amor, se a isso não chamar Natal então o que é o Natal? ♥
- Os 5 em Salamanca em Dezembro 2005. O João Maria no carrinho e o pai a tirar a foto
- João com 8 meses cheio de frio
- Eu com menos 12 anos
- Os 2 com menos 12 anos
À vida peço apenas força para superar dias muito difíceis (e como têm sido difíceis…). Serenidade para deixar ir o que chegou ao fim e coragem para persistir sempre no que ainda me faz feliz…
Beijinho muito grande, querida Patrícia
Outra M.
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Feliz Natal, querida M
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