A segunda partilha chega-nos do G. Conheço-o há algum tempo mas nunca tinha falado muito com ele. Até ao dia em que na festa de aniversário de uma amiga que temos em comum ficámos sentados ao lado um do outro. A aniversariante juntou um grupo muito restrito de amigos para festejar a chegada dos 40 e pediu que nos sentássemos aleatoriamente perto de alguém que não conhecêssemos tão bem. A minha conversa com o G levou-nos à pior coincidência das nossas vidas, ambos tínhamos perdido um irmão.
O G escolhe ser feliz, por si e porque sabe que era o que o irmão mais queria. Partilho aqui convosco, com a sua devida autorização, um bocadinho da sua história.
“O meu irmão?
Era a primeira pergunta que os meus pais ouviam assim que um de nós chegava a casa. Tanto eu como o P sabíamos, na grande maioria das vezes a resposta a esta pergunta, mas o gozo de ouvir que o nosso “companheiro de armas” estava a dois passos, levava sempre a melhor. – O teu irmão, está no escritório do 1.º andar! – respondia a minha mãe, antes de um de nós começar a subir as escadas a correr com uma vontade desenfreada de contar como tinha corrido aquele dia. Cada vez que me pedem para falar da forma como o falecimento do meu irmão me afectou, a primeira coisa que me recordo é este ritual que partilhávamos. Aceitar que, a resposta a esta pergunta, nunca mais seria a mesma, foi e continua a ser o maior desafio da minha vida.
Nos primeiros dias, estava demasiado confuso e “dorido” para conseguir processar o que me tinha acontecido e dai discernir como iria ser, dali em diante. Foi um turbilhão de sentimentos, que tive de aprender a processar e organizar de forma a encontrar uma janela que me permitisse sair de toda aquela confusão. A pouco e pouco, obriguei-me a levantar e a continuar com as minhas rotinas. Estabeleci objectivos e metas pessoais, porque compreendi que isso me podia ajudar a preencher e de alguma forma ocupar e limpar a minha cabeça e, por isso, decidi, “vou sair da minha zona de conforto, vou fazer Erasmus para a Republica Checa e volto daqui a uns tempos a Portugal!”
Ao longo do tempo, percebi ainda que, se começasse a “educar a forma como eu pensava” poderia também, acabar com os ataques de ansiedade que tinha desenvolvido, entretanto. Comecei a deixar de lamentar-me tanto e a agradecer mais tudo o que a vida me tinha dado e não, tudo aquilo que a vida me tinha tirado. Voltei a praticar desporto, a fazer o que mais me divertia e sobretudo a rodear-me de todos aqueles que me fazem sentir feliz de uma forma genuína. O meu irmão queria, o melhor para mim. Ser feliz, é o melhor que posso ser.”
Gostei muito da partilha do G porque me identifico com ela e também porque a achei especial por vir do lado do ainda apelidado sexo forte.
Os rapazes são ensinados desde pequenos a serem fortes, a não mostrarem as suas fraquezas e a ultrapassarem sempre os seus medos. “Um homem não chora”.
Pois eu todos os dias tento contrariar essa tendência aos meus 3 rapazes e digo-lhes muitas vezes que não há mal nenhum em falhar desde que se tenha tentado, que devemos sempre dar o nosso melhor mas que isso nem sempre é suficiente, que é normal ficarmos tristes se tivermos motivos para tal, que também podemos ser fracos mas que não devemos deixar que outros tirem proveito disso, que a felicidade não é estar sempre feliz, mas sim um grande conjunto de momentos felizes que se distinguem no oposto a todos os outros que não são.
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