7, 10, 13 …tenho saudades

Gosto de parar e contemplar os meus filhos, de ficar a admira-los como quem olha para obra feita, tipo sensação de ver o cesto da roupa vazio (ai, aqui não me posso queixar porque não sou eu que despejo o cesto, mas ainda assim, conheço a sensação), se bem que… a comparação com o cesto da roupa vazio pode não ser a melhor, porque o trabalho com os filhos nunca está completo e várias vezes tenho a sensação que falho muito no papel de mãe, e sobretudo no de mãe que educa. Sou óptima nos mimos, abraços e brincadeiras, mas tenho de melhorar nas exigências, castigos e distribuição de tarefas. Sou só eu que me sinto culpada cada vez que um dos meus filhos se porta mal? Se eles respondem mal, eu acho que sou eu que não os estou a educar bem; quando têm más notas, sinto que não sou suficientemente exigente; quando são demasiado irrequietos e desobedientes tenho a certeza que lhes dou muito mais beijos que regras. São os meus, os meus filhos, são sim, são os meus filhos, podem não ser minha pertença, mas ainda assim, são meus, os meus.

Gosto de recordar de como eu era quando tinha a idade deles e as saudades que tenho desses tempos. Tenho muito boas recordações de uma infância simples e muito feliz. Quando os vejo aos três a brincar (e tanta vez a brigar) lembram-me muito eu com o meu irmão com a mesma idade deles. Eu e o Tio Pedro tínhamos 6 anos de diferença, a mesma que o João Maria (13) tem do Zézinho (07) – só que eles ainda têm um irmão pelo meio, o Kiki (10 anos).

Quando o meu irmão nasceu eu tinha 7 anos, tal como qualquer filho único, eu era uma menina mimada que estava habituada a ter praticamente tudo o que pedia. Na altura achei que os meus pais tinham decidido ter mais um filho apenas para me fazer a vontade, uma vez que eu pedia muito para ter um irmão. O meu desejo ter-se realizado foi o melhor presente que alguma vez recebi.

Tenho saudades da minha rua (já falei sobre isso aqui), do relógio ser substituído pela minha mãe a chamar-me à janela, das férias grandes serem enormes, do calor do verão, das minhas vizinhas sentadas no degrau à porta de casa. Tenho saudades dos meus cães, dos patos da minha avó Aida, das férias com a minha avó Albertina na Lousã (mais propriamente em Framilo, junto a V. N. Poiares) do pudim de atum da minha avó Aida – a minha avó fazia arroz com atum e ovo mexido numa forma branca de plástico da tupperware que ela orgulhosamente desenformava, sem nunca o desmanchar, nos dias em que eu ia almoçar a sua casa – que saudades do pudim de atum da minha avó Aida.

Tenho saudades do meu irmão ser bebé, tenho saudades dos primeiros beijinhos que me deu, tenho saudades das viagens de carro para as férias no Algarve, tenho saudades de me sentar ao colo da minha mãe, de nadar pendurada no pescoço do meu pai, de me deitar na cama com a minha avó Albertina que dormia com camisa de dormir e tinha sempre as pernas quentinhas onde deixava que eu entalasse os meus pés gelados.

Tenho saudades de ter 13 anos, tardes livres e matinés ao domingo à tarde na Horta da Fonte e na Discopark. Saudades do tempo em que ir ao cinema era um programa perfeito, de bater à porta dos vizinhos que tinham piscina, de fazer piqueniques às vezes apenas com sumo e pipocas. Saudades das festas de aniversários nas garagens a ouvir Phil Collins e a jogar ao quarto escuro.

Tenho tantas saudades. Saudades boas.

Espero que, embora com todas as diferenças que existem entre a minha infância e a dos meus filhos, entre a minha adolescência e a deles (ai socorro! ser mãe de adolescente, socorro – só não desespero porque tenho a sorte de ter amigas que estão a passar pelos mesmos desafios), também eles daqui a uns anos, se recordem de tudo o que estão a viver agora e possam dizer que têm tantas saudades como as que eu hoje tenho.

Eu com 7 anos, a idade do Zézinho
Eu com 10 anos, idade do Kiki
Eu com 13 anos, idade do João Maria (descubram-me!)

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