Não pode ser verdade. Lembro-de ser este o primeiro pensamento logo depois de receber o telefonema da minha mãe. Foi com esse pensamento que deixei o meu filho, com apenas 5 meses, a dormir no berço, entregue à minha sogra. Não pode ser verdade.
Eu já tinha perdido os meus 4 avós, mas isso eu sempre soube que um dia ia acontecer. Mas perder o meu único irmão estava longe de ser verdade, quando ele tinha apenas 22 anos e eu apenas 28 e o meu primeiro filho apenas 5 meses.
Durante muito tempo fui perseguida por esse pensamento – não pode ser verdade – e tantas vezes acreditei que não era. Poucos meses depois da morte do meu irmão viajei para fora do país. Recordo-me como me soube bem, ainda que por apenas alguns dias, estar longe daquela verdade. O regresso a ela foi, porém, inevitável. Estava tudo igual. O meu irmão não tinha voltado nem nunca mais ia voltar. A mudança do estado, de não querer acreditar na verdade para, aos poucos, começar a aceitar que não a posso alterar, é um processo longo e doloroso.
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